Uso indevido da biometria: o que a operação Fakemetria nos ensina sobre proteção de dados sensíveis

Você já entregou sua biometria hoje?

Talvez sem nem perceber: na academia, no prédio comercial, na farmácia ou até para aproveitar um desconto.

O problema é que o que parece simples esconde um risco enorme — tanto para quem fornece quanto para quem coleta. E o recente caso da Operação Fakemetria, da Polícia Civil de Santa Catarina, mostra isso com clareza.

Golpe com biometria: entenda o caso da Fakemetria

Mais de 50 vítimas tiveram seus dados biométricos usados indevidamente para abrir contas em instituições financeiras com as quais nunca tiveram relação.

O responsável era um ex-funcionário de empresas de telefonia, que acessava a biometria facial de clientes reais das empresas de telefonia para aplicar os golpes, simulando abertura de contas e contratação de empréstimos e consignados.

A fraude só veio à tona quando os nomes das vítimas foram negativados em cadastros de proteção ao crédito.

E o nome da operação — Fakemetria — resume bem o paradoxo: o uso de um dado real, sensível e único… de forma indevida e perigosa.

O que é biometria e por que ela exige cuidado?

Biometria é toda informação relacionada a características biológicas de uma pessoa que permite identificá-la de forma única:

• Impressão digital

• Reconhecimento facial

• Íris

• Voz

• Geometria da mão

Nem irmãos gêmeos têm a mesma biometria. E é justamente essa singularidade que faz com que a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) classifique esse tipo de dado como "pessoal sensível" — exigindo o mais alto nível de proteção.

Isso significa que, uma vez comprometido, esse dado não pode ser alterado — diferente de uma senha ou dados cadastrais.

Biometria e LGPD: o que a lei diz?

A LGPD trata a biometria como dado sensível e exige:

• Uso com finalidade legítima e proporcional

• Base legal válida (como consentimento, obrigação legal ou prevenção à fraude)

• Informações claras e transparentes para o titular

• Medidas de segurança adequadas

Coletar esse tipo de dado sem critério algum pode gerar sérios prejuízos aos titulares de dados, mas também à organização que fez a coleta e uso indevido: multas, ações judiciais e danos à reputação.

Riscos do uso indevido da biometria

Hoje entregamos nossa biometria como se fosse CPF. Quase todos os lugares pedem a biometria:

• Academias para cadastro e liberação de entrada e saída;

• Prédios comerciais para entrada e saída;

• Bancos para autorizar transações financeiras;

• Validar compras em plataformas digitais;

• Acessar produtos e descontos em farmácias;

• Entrar em condomínios etc.

Você vai embora, mas seus dados ficam.

E o uso indevido da biometria pode gerar consequências sérias:

❌ Fraudes
❌ Roubo de identidade
❌ Acesso não autorizado a bancos de dados
❌ Uso de deepfake e outras ferramentas semelhantes para aplicar golpes

Sem contar a dificuldade para reverter os danos...

O caso da Fakemetria é um sinal de alerta para a banalização de um dado extremamente sensível. Ele mostra como a biometria, se usada sem os devidos cuidados, pode virar arma para golpes graves.

Além deste, o caso conhecido como "venda da íris" também chamou a atenção para o mesmo problema.

Como proteger dados biométricos na sua empresa?

Sua empresa coleta biometria? Então precisa garantir que esse dado seja tratado com responsabilidade e proporcionalidade.

Entre as boas práticas de governança em proteção de dados sensíveis estão:

• Avaliar se a coleta é realmente necessária

• Dar alternativas (como cartão, PIN, senha ou QRCode) sempre que possível

• Ter uma base legal válida

• Finalidade do uso clara e legítima

• Informar ao titular como os dados serão tratados

• Usar ferramentas seguras para armazenamento e acesso

• Manter um registro das operações de tratamento

• Treinar a equipe para lidar com dados pessoais

Uso indevido da biometria: um alerta para empresas

A operação Fakemetria nos ensina que a banalização da biometria pode ter consequências graves.

⚠️ Empresas devem repensar seus processos, garantir a transparência com os titulares e proteger os dados com seriedade.

A biometria pode ser um excelente recurso, mas precisa ser utilizado de forma estratégica, proporcional e responsável.

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